sábado, 12 de novembro de 2011

OS DEFEITOS DE JESUS


E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU? (Mt 16,15) 
JESUS SALVADOR, ÚNICA ESPERANÇA

Os defeitos de Jesus

Um dia eu encontrei um modo especial de dar minhas explicações porque sirvo a Jesus:
“Abandonei tudo para seguir Jesus, porque amo os defeitos de Jesus”.

Primeiro defeito: Jesus não tem boa memória
 
No alto da cruz, durante a sua agonia, Jesus ouviu a voz do ladrão que estava à sua direita: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres com teu reino” (Lc 23,42). Se fosse eu, ter-lhe-ia respondido: “Não vou te esquecer, mas os teus crimes devem ser pagos com pelo menos vinte anos de purgatório”. No entanto, Jesus responde-lhe: “... hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Ele esquece todos os pecados daquele homem.
Algo semelhante acontece com a pecadora que banha os pés de Jesus com perfume; ele não lhe pergunta nada a respeito de seu passado escandaloso, mas diz simplesmente:
“... seus numerosos pecados lhe estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor” (Lc 7,47).
A parábola do filho pródigo conta-nos que ele, no caminho de volta para a casa paterna, prepara-se interiormente sobre o que dizer: “Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados” (Lc 15,18-19). Mas quando o pai o avista de longe, este já havia esquecido de tudo, corre a seu encontro e abraça-o. E, não lhe dando tempo para a sua fala, dirige-se aos empregados, que estão desconcertados:
Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver. (Lc 15,22-24).
            A memória de Jesus não é igual à minha; ele não só perdoa, e perdoa a todos, mas esquece até mesmo que perdoou.

Segundo defeito: Jesus não “sabe” matemática

 
Se Jesus tivesse sido submetido a um exame de matemática, talvez teria sido reprovado. E o que demonstra a parábola da ovelha perdida. Um pastor tinha cem ovelhas. Uma delas se perde, e imediatamente ele sai à sua procura, deixando as outras noventa e nove no deserto. Reencontrando-a, coloca a pobrezinha nos ombros e carrega-a (cf. Lc 15,4-7).
Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove, e talvez mais ainda! Quem aceitaria algo deste tipo? Pois a sua misericórdia se estende de geração em geração...
Quando se trata de salvar uma ovelha perdida, risco algum, nenhum esforço faz Jesus se desencorajar. Contemplamos seus gestos cheios de compaixão, ao sentar-se junto ao poço de Jacó para dialogar com a samaritana, ou então, quando se autoconvida para ir à casa de Zaqueu! Que simplicidade a sua, simplicidade que ignora os cálculos humanos; que amor pelos pecadores!

Terceiro defeito: Jesus desconhece a lógica

 
Uma mulher tinha dez dracmas e perde uma. Acende, então, a sua lamparina para procurá-la. Quando a encontra, chama suas vizinhas e lhes diz: “Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma que havia perdido” (Lc 15,8-10).
E realmente ilógico perturbar suas amigas apenas por causa de uma dracma! Depois, promove uma festa para comemorar o ocorrido! E tem mais: ao convidar suas amigas, gasta mais do que uma dracma! Nem mesmo dez dracmas seriam suficientes para cobrir as despesas...
Neste caso, podemos realmente repetir as palavras de Pascal: “O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece” (cf. Pascal, 1999, n. 277, p. 104).
Jesus, ao concluir essa parábola, revela a estranha lógica de seu coração: “Eu vos digo que, do mesmo modo, há alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte” (Lc 15,10).

Quarto defeito: Jesus é um aventureiro

 
Quem cuida da publicidade de uma empresa ou se lança como candidato em algum tipo de eleição, geralmente faz uma programação bem precisa, com muitas promessas.
Nada de semelhante acontece com Jesus. A sua propaganda, analisada humanamente, é destinada ao fracasso.
Ele promete, a quem o segue, julgamentos e perseguições.
Aos seus apóstolos, que deixaram tudo por ele, não garante nem o sustento material nem uma casa para morar; mas apenas partilhar do seu mesmo estilo de vida.
A um escriba desejoso de se tornar seu seguidor, responde:
“As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20).
O trecho do Evangelho que trata das bem-aventuranças, verdadeiro auto-retrato de Jesus aventureiro do amor ao Pai e aos irmãos, é um paradoxo do início ao fim, embora estejamos acostumados a escutá-lo:
Bem-aventurados os pobres em espírito [...]. Bem-aventurados os aflitos [...].
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça [...]. Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos Céus [...]. (Mt 5,3-12)
Mas os discípulos confiavam naquele aventureiro. Já faz dois mil anos — e vai continuar até o fim dos tempos — que as pessoas continuam seguindo os passos de Jesus. Basta lembrar os santos de todas as épocas. Muitos deles fazem parte daquela abençoada associação de aventureiros. Sem endereço, sem telefone, sem fax...!

Quinto defeito: Jesus não entende nem de finanças nem de economia

 
Recordemos aqui a parábola dos operários da vinha: O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para sua vinha. Saindo em seguida às nove, ao meio-dia, às três e ainda às cinco da tarde [...j mandou-os para sua vinha. Ao final da tarde, pagou um salário a todos eles, começando pelos últimos e terminando com os primeiros. (cf. Mt 20,1-16)
Se Jesus fosse nomeado administrador de uma comunidade ou diretor de uma empresa, estas instituições fracassariam e decretariam falência. Como é possível alguém pagar o mesmo salário seja a quem começa a trabalhar às cinco da tarde, seja a quem começa desde manhã cedo? Trata-se de um descuido? Ou Jesus errou, fez as contas erradas? Não! Ele fez de propósito, porque — explica —: “Não tenho o direito de fazer o que eu quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau porque eu sou bom?” (Mt 20,15).

E NÓS ACREDITAMOS NO AMOR

Mas poderíamos perguntar-nos: por que Jesus tem esses defeitos?
Porque é Amor (cf. 1Jo 4,16). O amor autêntico não é racional, não mede, não ergue barreiras, não calcula, não recorda as ofensas recebidas e não impõe condições.
Jesus age sempre por amor. Da convivência da Trindade, ele nos trouxe um amor imenso, infinito, divino, um amor que chega — como afirmam os Santos Padres da Igreja — até a loucura e coloca em crise os nossos padrões humanos.
Ao meditar sobre este amor, o meu coração se enche de felicidade e de paz. Espero que, no fim de minha vida, Jesus me receba como o menor dos trabalhadores de sua vinha. Cantarei, então, a sua misericórdia por toda a eternidade, perenemente admirado com as maravilhas que ele reserva para os seus eleitos. Ficarei feliz ao ver Jesus com os seus “defeitos” que, graças a Deus, são incorrigíveis.
Os santos são especialistas nesse amor sem limites. Muitas vezes em minha vida eu supliquei a irmã Faustina Kowalska’ que me fizesse entender a misericórdia de Deus. E quando visitei Paray-le-Monial, fiquei chocado com as palavras que Jesus dirigiu à santa Margarida Maria Alacoque:
“Se tiveres fé, verás a potência de meu Coração”.
Contemplemos juntos o mistério deste amor misericordioso.


Do livro: Testemunhas da Esperança. François X. N. Van Thuan. Cidade Nova

3 comentários:

  1. Belo texto,e bela forma de evangelizaçao!! Parabéns a paroquia por tão santa ideia!!
    Dayse

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  2. Estou lendo o livro!! Bom demais!! Dayse!!

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